Talvez estejamos a andar depressa demais...
Ao prestar atenção ao funcionamento da nossa mente, rapidamente seremos surpreendidos por uma atividade mental e emocional imensa. Estes pensamentos e sentimentos incessantes consomem muita da nossa energia e poderão ser obstáculos à experiência de breves momentos de tranquilidade e contentamento.
Mesmo em momentos de relativa tranquilidade, os nossos pensamentos arrastam consigo os nossos sentidos, como quando conduzimos, quando de repente nos damos conta a pensar em algo que foi ou será ao invés de atentarmos à estrada e à nossa condução. Quando isto acontece, ausentamo-nos totalmente do presente e nesse momento não estivemos realmente a conduzir, mas antes em modo de piloto automático.
A mente que pensa foi capturada por qualquer coisa que lhe despertou a atenção e foi embora e, como consequência, nesse momento, a nossa atenção foi capturada, deixando-nos literalmente perdidos no nosso pensamento e ausentes de tudo o resto.
É ou não verdade que isto acontece a maior parte do tempo, independentemente do que quer que estejamos a fazer?
Tente observar quão facilmente a sua consciência do momento presente é levada pelos seus pensamentos, onde quer que se encontre, quaisquer que sejam as circunstâncias... No trabalho, ao lavar a loiça ou estender a roupa, ao conversar com os seus filhos, enquanto assiste a um espetáculo... Poderá ficar chocado com o resultado... com a quantidade considerável de energia despendida na ativação de memórias, na absorção em devaneios ou em lamentações e arrependimentos por aquilo que já passou e terminou. E claro, tanta ou mais energia despendida com antecipações, planeamentos, preocupações e fantasias acerca do futuro e sobre aquilo que desejamos e não desejamos que aconteça.
Derivado desta agitação interna, que permanece connosco grande parte do tempo, é provável que nos escape muita da textura das nossas experiências de vida ou que tendamos a desvalorizar o seu valor ou significado. Porque estamos demasiado ocupados e a nossa mente demasiado "embrenhada" com o que pensamos ser importante naquele momento, negligenciamos o tempo necessário para parar, ouvir e notar. Talvez estejamos a andar depressa demais para que consigamos abrandar, demasiado depressa para percebermos a importância do contacto olho no olho, do toque, do estar no seu corpo. Quando funcionamos desta forma, podemos estar a comer sem saborear, a olhar sem realmente ver e a falar sem realmente saber o que está a ser dito. Quando a inconsciência e a falta de presença domina a nossa mente, todas as nossas decisões e comportamentos são afetados. Esta inconsciência pode impedir-nos de estar em contacto com o nosso corpo, com os seus sinais e mensagens; o que por sua vez, pode gerar diversos problemas físicos e emocionais, problemas esses que nem nos damos conta que os estamos a provocar em nós mesmos.
E viver num estado crónico de inconsciência presente poderá fazer com que percamos aquilo que as nossas vidas têm de mais bonito e de maior significado e, como consequência, ser significativamente menos felizes do que o que poderíamos verdadeiramente ser.
Artigo de Opinião de Ana Soeiro Fernandes (Psicóloga Clínica/Terapeuta Familiar na Arborea)
- Log in to post comments